A reabilitação está na ‘ordem do dia’, mas o certo é que a recuperação de apartamentos sempre fez parte dos planos das famílias portuguesas. O desgaste dos anos, a alteração do agregado familiar ou apenas o desejo de modernização são alguns dos motivos que levam à fase das obras em casa.
Para a maioria das pessoas que passa por esta ‘aventura’, a experiência nem sempre é positiva. Mas as mudanças acabam, muitas vezes, por ser obrigatórias.
Sendo a tarefa complicada, pode pedir-se ajuda a um arquitecto. Um profissional pode tirar melhor partido de uma casa e dar-lhe ainda mais funcionalidade, como aconteceu, por exemplo, no apartamento que ganhou o nome de ‘Casa Amarela’. Os proprietários pediram aos arquitectos Pedro Varela e Renata Pinho do ateliê de arquitectura Rucativa que lhes tornasse o apartamento mais confortável, útil e funcional.
O projecto de renovação teve como ponto de partida a escolha de um novo pavimento, a reorganização da zona de cozinha e lavandaria, e a criação do máximo de arrumação. A intervenção no quarto principal e nas casas de banho foi um ‘bónus’ colateral.
«Foi uma intervenção muito localizada, acupunctural, resolvendo situações independentes. Nas zonas públicas surgiram tantos pontos a resolver que o projecto acabou por juntar tudo num só. O maior problema do apartamento era a cozinha, pois tinha muito pouca área de trabalho de banca, o mobiliário estava velho e desqualificado, e não havia local para o frigorífico sem ser na lavandaria. O pavimento existente, tijoleira, era incompatível com o desejo de um piso confortável na sala. Além destas disposições funcionais, foi pedido para ser criada muita arrumação, uma vez que o casal vivia antes num T0 e isso sempre lhes criou constrangimentos a nível de espaço», explica o arquitecto Pedro Varela.
Harmonia transversal
Como estratégia económica e ecológica de reabilitação, a equipa optou por demolir o mínimo (paredes da cozinha) e escolher um pavimento que dispensasse a picagem da tijoleira, podendo ser aplicado sobre o existente. As novas partições do imóvel foram criadas recorrendo a armários e portas de madeiras desenhados para o efeito. Para ligar estantes, armários e portas novas, alguns panos de madeira foram introduzidos, criando uma harmonia transversal.
O mais difícil em todo o processo foi, na opinião da equipa, encontrar um fio condutor. «Uma reabilitação é feita de muitas pequenas partes em locais que não escolhemos, mas que são pré-existências. De modo a que o produto final não fosse um aglutinar de soluções independentes, foi necessário criar uma história, uma narrativa em que todas estas peças convivessem harmoniosamente. Não obstante, houve constrangimentos. A estrutura do edifício é em paredes e lajes maciças de betão, construção túnel, o que limitou a liberdade em planta. Nem foi possível alargar a abertura de algumas portas», explica o arquitecto.
Para perceber quanto custou uma obra desta natureza, poderemos adiantar que rondou os 30 mil euros, incluindo os electrodomésticos. Pedro Varela garante que pode ficar muito mais económico investir num apartamento antiquado ou envelhecido por um baixo valor e reabilitá-lo, do que pagar um preço avultado por um apartamento novo que não foi feito à nossa medida nem ao nosso gosto.
Na verdade, reabilitar tem, na opinião destes arquitectos, um significado mais lato. Para eles, reabilitar significa reciclar, renovar, reviver, renascer.
«O ideal de usar e deitar fora, tendo algo sempre novo, é uma forma de vida que está a mostrar os seus pontos fracos. A história das coisas é algo muito valioso, algo que nos define. Não posso deixar de referir também a quantidade de edifícios vazios que vamos encontrando no centro das cidades portuguesas. Não podemos deixar que o centro das nossas urbes fique doente, senão arriscamo-nos a que este mal alastre como metástases. Temos centros e edifícios lindíssimos que não devem ser ignorados», conclui o arquitecto.
FONTE: sol.sapo.pt